28 de abr. de 2011

Alinhavos

Aprendi a costurar bem pequena, na verdade não lembro a idade, mas lembro quando eu fiz uma boneca de pano com a Socorro e eu ainda morava em Ipanema, nossa isso faz muito tempo. Aprendi por que quis, acho que era para não depender de ninguém quando precisasse. Fechava os furos, furinhos, costurava o que descosturava e pregava os botões que cismavam em soltar! Fui aprimorando e ao longo do tempo fui aprendendo algumas coisas com minha mãe, minha avó e com minha mania de inventar coisas diferentes. Uma coisa que aprendi é que tem algumas roupas de tecidos moles que não adianta costurar que fica muito feio, só da quando o furo é bem pequenininho quase imperceptível. Outra coisa muito útil dessa coisa de saber costurar são as bainhas. Hoje em dias os tamanhos das roupas estão loucos e muitas vêm cumpridas e olha que eu não sou baixa, e tem também essa coisa de não saber se vai usar com sapato baixo ou alto. Tem calças que da só para dobrar e pronto essas são as melhores, mas têm outras que não. Ai eu faço a bainha na hora mesmo, mas essa bainha precisa ser delicada. Como não é uma bainha definitiva e eu posso querer solta-la depois, nesse caso o ponto deve ser bem separado, isso se chama alinhavar.

Só para lembrar: essa coisa de ficar alinhavando e soltando não da para fazer em qualquer calça nem em qualquer tecido. Têm tecidos, os mais delicados, que só da para alinhavar uma, duas, no máximo três vezes porque quando você solta fica todo marcado ou corre o risco de rasgar. Você não vai estragar essa calça que gosta tanto por não saber com qual sapato vai usar! Né?

26 de abr. de 2011

Os nós precisam desatar

Não são minhas as palavras, mas são:

Música de Paula Leal e Amora Pera
( não sei o nome da música mil desculpas)



Não, me peça calma agora não
Minha alma custa a esquentar
Não tem mais graça me calar
Alguém aqui precisa agir
O que ainda resta esperar
Ninguém aqui agüenta mais
Deixar do jeito que esta
É só tortura
Os nós precisam desatar
Quem vai mudar
Fica e ouve uma vez

É muito fácil só dizer
Tudo que quer sem nem pensar
Bater a porta e sair
Deixando dor pra digerir
Se quem errou fomos nós dois
Quem é que deve perdoar
O amor também pode cansar
De brincadeira desista ou queira me querer
Quem vai dizer sim ou deixa pra lá

10 de abr. de 2011

do gosto

"cansada

do gosto

salgado que

escorre e entra

pelo canto da

b o c a"



6 de abr. de 2011

conto do ia, ou conto doía, ou contudo ia

Clara ia fazer 15 anos! Como toda moça dessa idade estava muito ansiosa para chegar o seu dia. E como a maioria das moças do colégio dela, dessa idade, iria escolher se a festa ou viagem teria. Clara estudava em um dos melhores colégios da zona sul e seu pai dava um duro danado para pagar a mensalidade que 50% de bolsa ela já tinha. Disso a Clara não sabia.

Então nessa euforia dos 15, da decisão que achou que faria, chegou em casa um dia e disse:

- Pai, já sei o que eu quero!A viagem pai, a viagem!

O pai perplexo com tanta certeza e alegria não teve coragem de dizer para Clara que a viagem ela não poderia. E assim foi empurrando com a barriga, e com o tempo começou a acreditar que talvez arranjaria o tal dinheiro para a viagem da menina. A viagem era cara e o pai começou a contabilizar quanto gastaria. Cortando daqui e dali, economizando aqui e acolá e conseguindo aquele trabalho extra ele achou que conseguiria. Ela percebeu que com dificuldade seria e assim seguiram, um abrindo mão de uma coisa ali, o outro abrindo mão de uma coisa dali.

Clara com a viagem sonhava e planos fazia e o pai tentava corresponder a tanta euforia. Com o passar dos dias Clara cobrava do pai o dia que iria e em que hotel ficaria, ele como todo o dinheiro não tinha só dizia que ela iria, que ela iria. Aquele jeito do pai foi deixando Clara com muita agonia e cada vez mais ela perguntava e cobrava como e quando seria. Um belo dia (me desculpe a ironia) o pai não aguentou e resolveu que a verdade falaria.

Ele a chamou na sala para conversar sobre a tal viagem que ela faria. Clara correu para sala com muita alegria. Alegria essa que enquanto o pai falava se diluía e como água da pia escorria. As palavras que o pai dizia para ela não tinham sincronia. Ela tentava juntar umas com as outras, mas nenhum sentido fazia. Ele se dando conta do que fizera cabisbaixo se encolhia a cada explicação que ela pedia. Tentando ainda alegrar aquele triste dia ele disse que a festa ela teria. Na altura daquele campeonato a festa ela queria, não por birra, manha ou teimosia. É que depois de tanto sonho e expectativa só a viagem a completaria. Voltando para seu quarto com um pouco de afasia Clara refletia. Se ela soubesse desde aquele dia que a viagem ela não poderia. Ela nem pediria. Ela nem esperaria. Nenhuma expectativa teria. E talvez com a festa feliz ela ficaria!

3 de abr. de 2011

A Dúvida

Sofrer sabendo pelo o que se está sofrendo é mais fácil. Sofrer pelo incerto é tortura, principalmente quando o “certo” ou o “errado” estão na mão de outra pessoa.Me lembro daquele dia, daquelas horas que o certo já era certo(que para mim era errado) mas não era concreto. Naquelas horas passou um turbilhão de coisas na minha cabeça. A maior angustia era saber quando, como e onde. Aquela foi a maior tortura da minha vida, a de tentar descobrir, de tentar adivinhar se eu estaria perto ou longe. O perigo de colocar o pé para fora de casa e na volta ele não estar mais lá. A dúvida se aquela seria a ultima vez. A dúvida se eu tinha feito tudo que podia fazer e a conclusão que naquela hora não podia fazer mais nada. A dúvida se falei tudo, se teria tempo para falar tudo sem ele perceber, claro, que poderia ser a última vez. A dúvida. A dúvida é uma tortura. Me tira do eixo, me deixa insegura. Conviver com a dúvida pra mim é enloqueceDOR, me leva para o túnel do tempo, para aquelas torturantes horas. Para aquelas horas que felizmente, e eu digo isso com a maior tranqüilidade do mundo, foram poucas. Que a única coisa que fiz, foi ficar ali do lado e isso foi tudo.