6 de abr. de 2011

conto do ia, ou conto doía, ou contudo ia

Clara ia fazer 15 anos! Como toda moça dessa idade estava muito ansiosa para chegar o seu dia. E como a maioria das moças do colégio dela, dessa idade, iria escolher se a festa ou viagem teria. Clara estudava em um dos melhores colégios da zona sul e seu pai dava um duro danado para pagar a mensalidade que 50% de bolsa ela já tinha. Disso a Clara não sabia.

Então nessa euforia dos 15, da decisão que achou que faria, chegou em casa um dia e disse:

- Pai, já sei o que eu quero!A viagem pai, a viagem!

O pai perplexo com tanta certeza e alegria não teve coragem de dizer para Clara que a viagem ela não poderia. E assim foi empurrando com a barriga, e com o tempo começou a acreditar que talvez arranjaria o tal dinheiro para a viagem da menina. A viagem era cara e o pai começou a contabilizar quanto gastaria. Cortando daqui e dali, economizando aqui e acolá e conseguindo aquele trabalho extra ele achou que conseguiria. Ela percebeu que com dificuldade seria e assim seguiram, um abrindo mão de uma coisa ali, o outro abrindo mão de uma coisa dali.

Clara com a viagem sonhava e planos fazia e o pai tentava corresponder a tanta euforia. Com o passar dos dias Clara cobrava do pai o dia que iria e em que hotel ficaria, ele como todo o dinheiro não tinha só dizia que ela iria, que ela iria. Aquele jeito do pai foi deixando Clara com muita agonia e cada vez mais ela perguntava e cobrava como e quando seria. Um belo dia (me desculpe a ironia) o pai não aguentou e resolveu que a verdade falaria.

Ele a chamou na sala para conversar sobre a tal viagem que ela faria. Clara correu para sala com muita alegria. Alegria essa que enquanto o pai falava se diluía e como água da pia escorria. As palavras que o pai dizia para ela não tinham sincronia. Ela tentava juntar umas com as outras, mas nenhum sentido fazia. Ele se dando conta do que fizera cabisbaixo se encolhia a cada explicação que ela pedia. Tentando ainda alegrar aquele triste dia ele disse que a festa ela teria. Na altura daquele campeonato a festa ela queria, não por birra, manha ou teimosia. É que depois de tanto sonho e expectativa só a viagem a completaria. Voltando para seu quarto com um pouco de afasia Clara refletia. Se ela soubesse desde aquele dia que a viagem ela não poderia. Ela nem pediria. Ela nem esperaria. Nenhuma expectativa teria. E talvez com a festa feliz ela ficaria!